Bolivianos

As máscaras festivas feitas de estuque ou pano que os dançarinos usam para cobrir suas máscaras psicológicas de submissão, indiferença e auto censura, na realidade permitem que eles revelem suas verdadeiras faces. Em virtude deste paradoxal ‘cobrir para descobrir’, todos os desejos inconfessáveis, energias reprimidas e ressentimentos ocultos transbordam em uma torrente de cor, movimento e melodia: um magnifico despertar de uma cultura adormecida.

Masks of the Bolivian Andes, Editorial Equipus e Banco Mercantil



Minha eterna fascinação por mascaras tradicionais deu um salto adiante na primavera de 2017, quando visitei o Museu Nacional de Etnografia e Folclore em La Paz, Bolívia. O que me enfeitiçou por completo foi, em especial, uma exposição em cartaz, com mais de cinquenta máscaras de festival.

As máscaras eram velhas e haviam sido confeccionadas artesanalmente em Oruro, um antigo centro de mineração de estanho, a cerca de 225 quilômetros ao sul de La Paz, no frio Altiplano (uma elevação de 12,000’). Retratando figuras importantes das tradições folclóricas bolivianas, as máscaras haviam sido criadas para as celebrações de Carnaval que acontecem todo ano, ao final de Fevereiro ou no começo de Março.

O Carnaval de Oruro se desenvolve em torno de três grandes danças. A dança “Os Incas” rememora a derrota e morte de Atahualpa, o imperador Inca na época da chegada dos Espanhóis em 1532. Outrora supunha-se que a dança “A Morenada” representasse os escravos negros que trabalhavam nas minas, mas a verdade é mais complicada (e incerta), pois apenas índios Mitayo eram autorizados a fazer este trabalho. A dança “A Diablada” mostra São Miguel lutando contra Lúcifer e os sete pecados capitais. Estes pecados eram, originariamente, disfarçados em sete mascaras diferentes, derivadas de símbolos medievais cristãos e em geral desprovidos de elementos pré-Colombianos (exceto animais totêmicos que se tornaram vinculados ao Cristianismo depois da Conquista). Normalmente, nestas danças, o galo representa o Orgulho, o cão, a Inveja, o porco, a Ganância, o diabo fêmea, a Luxúria, etc.

A exposição em La Paz era assombrosa e dramática. Cada máscara estava meticulosamente instalada contra uma parede de negro profundo e era estrategicamente iluminada com refletores, de modo a se tornarem vivas. O efeito geral era estranho. As máscaras pareciam versões em 3D das minhas “Pinturas Negras,” uma série de pinturas em pastel que venho criando há uma década. Esta experiência foi um presente… Eu mal pude acreditar na minha boa sorte!

Sabendo que estava a testemunhar o nascimento de uma nova série – eu disse isso aos meus companheiros, ao ficar para trás, enquanto eles iam explorar outras partes do museu – gastei um tempo considerável compondo fotografias. Assim, reuni material de referência suficiente para criar novas pinturas em pastel no meu ateliê, por muitos e muitos anos.

A série, intitulada “Bolivianos,” é com certeza, meu trabalho mais forte e mais impressionante até o momento.

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