Pinturas Negras

“A assimilação de estilos e motivos de artefatos culturais africanos no trabalho de artistas de vanguarda foi um meio de desafiar valores estéticos e hierarquias convencionais ocidentais que refletiam o que esses artistas percebiam como uma sociedade vazia e moribunda. Ao se voltar para estas fontes para revigorar suas próprias visões criativas, o que esses artistas realmente descobriram foram novas formas de ver e fazer arte.” - Wendy Grossman em “Man Ray, Arte Africana e a Lente Modernista”
(Continua abaixo)



Sou atraída por objetos culturais do México e Guatemala — máscaras, animais esculpidos em madeira, figuras de papier maché e brinquedos — por razões semelhantes às de Man Ray e dos Modernistas , que, no caso deles, foram atraídos pela arte africana. Em viagens para o sul do México e Guatemala frequento lojas de máscara locais, mercados e bazares, procurando as figuras que mais tarde irão povoar minhas pinturas em pastel e fotografias. Como, porquê, quando e onde esses objetos entram na minha vida é uma parte importante do processo. Pego objetos muito velhos, com um passado único no Mexicano ou Guatemala — a maioria foi usada em festivais religiosos — e lhes dou uma segunda vida, por assim dizer, em Nova York, no presente. Quando volto para casa leio prodigiosamente e descubro o máximo possível sobre eles.

A série Pinturas Negras em pastel-de-lixa brotou diretamente da anterior, Ameaças Domésticas. Ambas as séries usam objetos culturais como substitutos para os seres humanos, atuando em narrativas misteriosas, altamente carregadas. Nas Pinturas Negras as figuras (atores) agora ocupam o centro da cena. Todos os detalhes do pano de fundo, móveis, tapetes, etc, são eliminados e substituídos por pastel preto escuro intenso. Cada pintura leva meses para ser concluída enquanto eu lentamente vou acumulando até 30 camadas de pastel macio.

A idéia das Pinturas Negras começou quando frequentei um curso de história do jazz e aprendi como Miles Davis desenvolveu o cool jazz a partir do bebop. No bebop as notas eram tocadas de forma dura e rápida, enquanto os músicos exibiam seu virtuosismo técnico. O cool jazz era um estilo muito mais descontraído, com poucas notas, ou seja, a música era resumida ao seu essencial. Da mesma forma minha série atual evoluiu de densas e complexas composições visuais para chegar a pinturas que retratam apenas os elementos essenciais — os atores.

Iniciada em 2007, esta série é meu conjunto mais pessoal de trabalhos até o momento. O fundo negro simboliza a morte e o vazio, enquanto os atores emergem de um estado profundamente doloroso. Embora a série Pinturas Negras tenha sido criada a partir de uma profunda dor, cada imagem expressa um irreprimível otimismo.

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